O desenvolvimento mediúnico e o autoconhecimento

O desenvolvimento da mediunidade das pessoas que chegam aos terreiros de umbanda deve ser tratado com suma importância pois é o momento onde o médium iniciante terá os seus primeiros contatos com a religião de Umbanda, com seus fundamentos e práticas rituais. É normal que nessa hora, os médiuns iniciantes sintam medo, insegurança, afobação, duvidas, e outros sentimentos que podem dificultar os médiuns iniciantes a começar seu contato com os guias espirituais e os orixás. Por essa razão, o desenvolvimento mediúnico deve ser realizado em um dia a parte dos trabalhos de atendimento convencionais, sem a presença de assistência, em um dia focado para fazer a prática de desenvolvimento. É aberta uma gira específica para o desenvolvimento, os médiuns mais antigos da casa podem auxiliar neste dia dando sustentação e apoio aos mais novos para que eles consigam essa interação com a espiritualidade, lembrando que esses novos médiuns devem sentir essas energias e se deixar envolver pelas forças espirituais, até que consigam incorporar seus guias e orixás. Os médiuns mais experientes devem auxiliar os mais novos com sustentação energética, e preferencialmente não ficar “puxando” os guias dos recém-chegados médiuns, pois assim evita-se de criar uma “muleta” para a incorporação dos mais novos sendo que saberão, mesmo inconscientemente, que na hora de incorporar haverá um médium para “puxar” o seu guia em terra.
Incorporar seus guias e orixás é, e deve ser entendido como um mergulho na própria espiritualidade, onde o guia habita o corpo físico do médium e o médium permanece no corpo físico. Ele não dorme, não apaga, não esquece, e sim mergulha em outro ser de uma realidade completamente diferente da sua. É o momento onde o sagrado habita o seu corpo, onde você e seu guia se tornam um, onde o médium não sabe onde começa o guia e onde termina o médium. Por isso, a incorporação e todo o processo de desenvolvimento é uma conquista para o jovem médium, onde ele consegue vencer seus bloqueios, seus entraves, transpassa a barreira do medo e transcendem a si próprios na experiencia e vivência com a espiritualidade.
Desenvolver a mediunidade é também desenvolver um trabalho de controle das emoções, pois as emoções também são chave para uma boa incorporação, ou conexão com os guias e orixás. O equilíbrio emocional é uma das tarefas que mais requer nossa atenção e cuidado durante toda uma vida. E não são necessários grandes eventos para nos tirar de um estado emocionalmente equilibrado para um mergulho em um estado emocional negativo. Em um mesmo dia podemos sentir tristeza, alegria, sofrimento, gratidão, carência, irritação, raiva, tranquilidade, amor, ódio, etc., tudo no mesmo dia.
O desenvolvimento mediúnico é um desenvolvimento de consciência, é um despertar. E despertar para si é olhar para dentro, poder enxergar e entender nosso estado emocional. Um médium desequilibrado, ou que pode te passado por um evento emocionalmente forte durante o dia, não é um bom instrumento para a divindade. Sabemos que existem situações que podemos evitar, outras estão fora do nosso controle, como problemas familiares e profissionais, mas sempre podemos aprender a lidar com esses problemas de forma racional, relaxando, confiando em nossos guias e orixás, serenar a mente e buscar soluções.
Manter os nossos pensamentos positivos e nosso emocional equilibrado é muito difícil, não se consegue um estado de plenitude permanente. A própria prática mediúnica e o trabalho espiritual com os guias e orixás são muito importantes para chegar a este estado de plenitude. Quanto mais equilibrados, quanto mais nos conhecermos, mais facilmente traçaremos esse caminho de evolução.
Desenvolver a nossa mediunidade não é uma tarefa fácil, que demanda muito tempo e dedicação do médium para consigo e para com seus guias e orixás. É um caminho que nos leva cada vez mais a um olhar introspectivo, e de começar a entender, em momentos que não conseguimos definir, porque muitas vezes temos reações adversas. É o autoconhecimento, saber que está sentindo, vibrando, entrando em ressonância com a divindade, saber que é você com ela, ali, no mesmo corpo físico, os dois se tornam um.
É necessário que, nessa fase inicial da vida mediúnica, o jovem médium receba uma carga de conhecimentos necessários para aprender a chegar ao estado de maturidade das suas faculdades mediúnicas e entender a necessidade de sempre estudar e buscar conhecimentos para se aprimorar, se conhecer e conhecer o universo sublime e maravilhoso da religião.
Os umbandistas devem desenvolver em seus íntimos uma consciência de aprendizagem constante, de busca por novos conhecimentos, para que possamos servir a Deus e Suas divindades como instrumentos cada vez mais lapidados e aprimorados. Por isso, a leitura é fundamental para o crescimento do indivíduo, para a expansão da consciência e para o aprimoramento das faculdades mediúnicas. Quanto mais conhecimento possuímos melhor será a desenvoltura de um atendimento com os guias e mestres espirituais, pois um guia de umbanda possui muitos conhecimentos, tanto acumulados durante as suas experiências carnais quanto os conhecimentos acumulados durante a sua trajetória espiritual. Trajetória que ele teve de percorrer para evoluir e tornar-se efetivamente um guia espiritual assentado em uma das linhas de trabalho de ponto de forças dos sagrados orixás. Como nós, espíritos encarnados, não temos acesso ao mental dos guias para nos servir dos conhecimentos acumulados por eles, o estudo se torna uma via conseguir auxiliar melhor aos nossos guias e mestres espirituais durante os atendimentos e em nossas próprias necessidades do cotidiano.
Se conhecemos as ferramentas certas e temos o nosso mental aberto para novos conhecimentos, será mais fácil para os nossos guias, mestres e mentores nos intuir e se servir de nós como instrumentos da Lei Maior e da Justiça Divina em prol do auxilio dos mais necessitados, e por isso a leitura deve ser um hábito constante.
Estudar a umbanda, seus fundamentos, sua ritualística e práticas se faz necessário para se criar uma consciência religiosa legitimamente umbandista, sem tabus ou dogmas que não possam ser aprendidos ou estudados, fazendo de nós verdadeiros religiosos á serviço da nossa amada Umbanda, equilibrados e conhecedores dos nossos próprios fundamentos.